Culinária Brasileira  -  Sanduíche BAURÚ - Estado de São Paulo   

HISTÓRIA  "Ponto Chic"

São Paulo da garoa, os carros os bondes, as damas de "tailleurs", os homens de terno e chapéu circulam pelas ruas de paralelepípedos. As Senhoras se reúnem para o chá da tarde, e aproveitam para tirar longas baforadas de seus cigarros fincados em elegantes piteiras. Os homens procuram manter seus sapatos brilhantes, naquele engraxate de costume, enquanto lêem o jornal do dia, comprado do moleque jornaleiro, que estampa em sua manchete a velocidade vertiginosa com que cresce sua cidade.

Os Modernistas se insurgem contra regras ditatoriais que lhes tolhe o poder da criação.

- É a "Semana de Arte Moderna".

No burburinho das máquinas a todo vapor das Industrias Matarazzo a cidade avança a passos largos. Constroem-se arranha-céus, viadutos, pontes, abrem-se ruas, trilhos são instalados pela LIGHT, o gasômetro é visitado por pessoas com problemas respiratórios, a Cinelândia, no centro novo, fervilha com suas atrações.

O lambe-lambe, próximo ao homem do realejo, convida a todos para registrar aquele momento, enquanto o periquito daquele tira a sorte para uma moça bonita à qual o namorado quis presentear.  Neste ambiente - Odílio Ceccini vai montar um bar, o local escolhido é um pequeno prédio de três andares situado no Largo do Paissandu, esmera-se na montagem utilizando elementos muitas das vezes importados.
O Bar é inaugurado em data próxima a Semana de Arte Moderna e logo ganha fama devido suas instalações consideradas modernas e "chiques" e seus freqüentadores referem-se ao ponto como o "chique" da cidade e logo essa colocação fica resumida a "Ponto Chic".
Assim nasce o BAR MAIS FAMOSO DE SÃO PAULO - "Ponto Chic".Freqüentar o Ponto Chic era para ver e ser visto, assim passou a ser freqüentado por figuras exponenciais das artes, da política, dos esportes, etc..., e outras nem tanto, que ali vinham para se deliciar com a possibilidade de não mais que de repente cruzar com seu fã ou ídolo. Odílio era Palestrino fervoroso, ocupava cargo de destaque na diretoria do PALESTRA ITÁLIA. Convidados por ele, lá apareciam as principais figuras do esporte principalmente do futebol.


Busto de Casemiro Pinto Neto

Muitas são as histórias relacionadas ao Ponto Chic, passando por Madame Fifi com suas francesas nos altos do mesmo prédio, assembléias de estudantes da Faculdade São Francisco, MMDC e a revolução de 32, a invenção do sanduíche mais famoso do Brasil - O BAURU, as discussões políticas, o futebol, a Gazeta Esportiva, o basquete, negociação de craques, chegando a idéias, textos e composições inspiradas pelo ambiente.
Até os dias de hoje o Ponto Chic mantém sua tradição de oferecer aos clientes, em sua forma original, o sanduíche mais famoso do Brasil - O "BAURU".


Cultura no Bar  -   Revolução de 32

1932: A cidade em armas
Em 1931, as elites paulistas já manifestavam seu descontentamento com o governo de Getúlio Vargas. Os fatores que agravaram a situação foram a intervenção estatal na agricultura, com a criação do Conselho Nacional do Café e a transformação dos sindicatos operários em órgãos ligados ao Estado. No mesmo ano, o Partido Democrático de São Paulo se articulava contra os princípios da revolução de 30, exigindo de Getúlio a Constituição que prometera. Fundado em 1926 por representantes da elite paulistana, em sua maioria dissidentes do Partido Republicano Paulista, o Partido Democrático era uma reação contra a República Velha e sua política viciada. 


Alinhando nomes como Antônio Prado, Prudente de Morais Neto, Francisco Morato e o jornalista Júlio de Mesquita Filho, que manifestava sua opinião através do jornal da família, O Estado de São Paulo, a oposição ao governo Vargas seria o caminho natural do novo partido. As reuniões eram realizadas no palacete Santa Helena, na Praça da Sé, onde funcionava o escritório do conselheiro Antônio Prado. Um local que se tornaria o foco principal da revolução civil. Em 1932, o Partido Republicano e o Partido Democrático se uniram formando a Frente Única, em oposição à "Ditadura Vargas". Surgiram conflitos populares nas ruas da cidade e, no dia 23 de maio, quatro jovens perderam a vida em confrontos com as forças governamentais na Praça da República: Euclydes Miragaia; Mário Martins de Almeida; Dráusio Marcondes de Souza e Antônio de Camargo Andrade. Com as iniciais de seus nomes, Miragaia, Martins, Dráusio e Camargo, foi formada a sigla MMDC, que passaria a identificar a Revolução Constitucionalista.

Preocupado com os acontecimentos, Vargas marcou para o ano seguinte as eleições para a Constituinte, mas a medida não surtiu efeito. No dia 9 de julho de 1932 São Paulo entrou em guerra, com a mobilização das tropas da Força Pública e de um enorme exército de voluntários comandado por Bertoldo Klinger. O alistamento de civis ficava a cargo dos postos do MMDC - cuja sigla, os revoltosos traduziam como "Mata Mineiro Degola Carioca" -, que tinha sua sede principal na Faculdade de Direito, no Largo de São Francisco. Seus integrantes também cuidavam da propaganda cívica, espalhando cartazes com o slogan "VOCÊ TEM UM DEVER A CUMPRIR". Por toda a cidade, os revolucionários cantavam a "Marcha da Liga de Defesa Paulista", com letra de Guilherme de Almeida:

Marcha soldado paulista                                                                                     PRAÇA DOS CORREIOS  - 1925
Marcha teu passo na história!
Deixa na terra uma pista;
Deixa um rastilho de glória.

No dia 11 de julho de 1932, os jornais da cidade publicavam a mensagem do general Isidoro Dias Lopes, comandante geral da Revolução:

Ao Povo Paulista

Neste momento assumimos as supremas responsabilidades do commando das forças revolucionarias empenhadas na lucta pela immediata constitucionalização do paiz. Para que nos seja dado desempenhar, com efficiencia, a delicada missão de que nos investiu o illustre governo paulista, lançamos um vehemente appello ao povo de S. Paulo, para que nos secunde na acção primacial de manter a mais perfeita ordem e disciplina em todo o Estado, abstendo-se e impedindo a pratica de qualquer acto attentatorio dos direitos dos cidadãos, seja qual fôr o credo politico que professem.

No decurso dos acontecimentos que se seguirão, não encontrará a população melhor maneira de collaborar para a grande causa que nos congrega, do que dando, na delicada hora que o paiz atravessa, mais um exemplo de ordem, serenidade e disciplina, caracteristicos fundamentaes da nobre gente de S. Paulo. (Transcrito do jornal Diario Popular do dia 11 de julho de 1932)

A Revolução Constitucionalista de 32 durou quase três meses e, depois de muita luta, terminou no dia 29 de setembro com a rendição de Bertoldo Klinger.

Através de alguns trechos do livro Revoluções do Brasil Contemporâneo, de Edgard Carone, é possível avaliar alguns aspectos da Revolução paulista:

"...Afinal, às 23:30 horas de 9 de julho, a revolução era um fato. A chácara do Carvalho, sede da R.M., e Quitaúna não oferecem resistência; Correios e Telégrafos, a Telefônica, as rádios Educadora e Record são ocupadas...
...os estudantes da Faculdade de Direito mobilizam-se; abrem-se as inscrições para o voluntariado, as adesões aumentam. Isidoro Dias Lopes assume o Comando Geral, Bertoldo Klinger a chefia das forças revolucionárias, e Marcondes Salgado continua comandante da Força Pública; todos fazem parte da recente Junta Revolucionária...
...É indescritível o entusiasmo da burguesia e da pequena burguesia, aliadas numa Frente Única que elimina todas as divergências, eufóricas com a certeza de uma rápida derrubada do Governo Provisório. Os problemas, porém, logo se acumulam, esfriando o otimismo: o armamento e a munição em Quitaúna eram escassos, sendo a Força Pública o único grande arsenal existente; as tropas e as armas que Klinger prometera não vieram; as tropas paulistas aguardam nas fronteiras o anunciado apoio do Rio Grande e Minas...
...A luta foi violenta e durou três meses. Sem auxílio externo, a oligarquia paulista incentiva ao máximo o entusiasmo da pequena burguesia e obtém o seu sacrifício numa luta heróica e vã, que só a ela traria benefícios...
...Sublinhando os temas da humiliação de São Paulo e da volta à Constituição, a burguesia procura identificar-se como uma luta democrática, mas o operariado olha este patriotismo com desconfiança e, compreendendo que a luta não é sua, dela não participa...
...A burguesia faz a campanha do "ouro para o bem de São Paulo", a emissão de bonus, empréstimos no estrangeiro; por outro lado, as necessidades militares obrigam a indústria paulista a fabricar armamentos, em impressionante mobilização..."

Se, para alguns, a Revolução de 32 foi caracterizada como um movimento que interessava principalmente às elites, para outros "São Paulo não foi vencido", como afirmava Alfredo Ellis Jr. ao final do conflito: "Um povo traído, vendido, sem armas, sem munições, sem quadros para as suas forças de voluntários, e sempre novamente traído, não pode ser considerado vencido, depois de sozinho, ter enfrentado impávido, todo o poder bélico de uma nação de 42 milhões de habitantes, com todas as forças de seu exército, com toda a sua marinha, com todas as polícias de 20 Estados, com todos os seus jagunços mercenarizados de norte a sul".

Em depoimento especial para este livro, o vereador João Brasil Vita, na época com 10 anos de idade, relata sua curiosa participação na Revolução:

"Durante a revolução de 32, na rua onde morava, no Cambuci, um bairro muito pobre, bairro de imigrantes, eu e um grupo de meninos montamos uma espécie de canhão, com um pedaço de chaminé e duas rodas. Fomos andando a pé pela Rua do Lavapés, subimos a Rua da Glória e seguimos até o Largo São Francisco, exibindo um cartaz com palavras de minha autoria: Se preciso, também iremos".

Mesmo com a derrota, a situação em São Paulo se normalizaria somente em agosto de 1933, após a nomeação de um interventor que agradava às elites, o paulista Armando de Sales Oliveira, e com a convocação das eleições para a Assembléia Nacional Constituinte, em 1934.

Texto do jornalista Angelo Iacocca para o livro Ponto Chic – Um bar na história de São Paulo, a ser lançado em breve. Matéria utilizada do site do Bar Pnto Chic de São Paul,  www.pontochic.com.br , em caráter cultural e de divulgação para os autores. No caso dos autores se sentirem ofendidos, favor entrar em contato conosco, endereço abaixo que será retirada da rede. 

 

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